Olhei pela janela,para o meu jardim florido:verde!...Me lembrei da história destes vasos.Os vasos do cemitério.
Uma vez eu desisti de o que fazer,Tinha tristeza.Tristeza mais pro-fundo que nem sabe.Sem sonhos,sem vontade.Era doído para mim,para quem estava perto.Quando achava alguma graça parecia chover ácido.Fiquei cética.A beleza do mundo doía em mim abandono.
Eu resistia.A todo engano,ao que acabou,e todo o resto.
A mudança.Ao inaceitável.Ilusões.
Bem.Não vamos entrar em detalhes de toda uma vida,do que passou.Mas então aconteceu que um dia a minha filha precisou de mim.Muito mesmo.E me desesperei,pois não tinha nada em mim que pudesse ajudar,financeiramente,nem vê-la eu pude,e nenhuma voz,eu era apenas mágoa desarticulada,uma culpa,quase nada.Então,fui até a faculdade e procurei por ajuda psicológica acessível,e consegui.Foi então que conheci a Geovanna,também gostava de Yung,foi tão caminho de volta,sem preconceito,ela me ajudou.E todos os dias passava em frente ao cemitério e via muitos vasos abandonados,sem flores,ou secos,jogados.Eu não tinha carro e passava devagar,caminhando,ali tem um trilho abandonado de trem bem debaixo da ponte, e a estradinha de terra passava por lá:tão bonito,curvas ao longe,eu ia.O sol lá no finzinho do dia.
Um dia parei e juntei um monte,um monte mesmo de vasos vazios,eu tinha tempo...
Procurei mudinhas de plantas e fiz os arranjos,com as que resistem mais.Eu não preciso cuidar muito e elas são lindas mesmo assim.São mais de cem!
Nos combinamos, enfeitando a vida umas das outras sem muito esforço,tão bom assim.Hoje,meu jardim está formado,lindo,e minha filha tão feliz.Choveu a pouco,a seca acabou dentro e fora.Me lembrei de que quando plantei as mudas invoquei o poder e o amor de todos os meus ancestrais.
...Éramos vasos vazios e abandonados
e agora,somos todos flores.
Renata Koury