quarta-feira, 27 de junho de 2012

Voltando para casa,na pracinha da prefeitura passou um bêbado velho,um pé doente,tava andando com muita dificuldade,mexeram com ele da construção:
-Ô fulanoooooooooo.
-Eu tô no fundo do poço!Respondeu entre uns resmungos.
(parecia estar mesmo...)
Os pedreiros riram alto,riram muito!
-Mas vai melhorar,seguiu resmungando baixo:Vai melhorar...
Será que acham que a velhice não chegará nunca para eles,que nunca verão o fundo do poço?Aonde está a graça da degraça alheia?Chorei por dentro.Queria abraçar aquele preto velho doente e fedorento e dizer-lhe que eu sentia muito.Que eu conhecia o fundo do poço e a miséria humana...
Mas não se abraçam mendigos em frente á prefeitura:sou apenas mais uma covarde:-Sim,as coisas vão melhorar,sim!
...E seria uma mentira que eu diria com convicção.

Renata Koury

quinta-feira, 21 de junho de 2012

As formiguinhas

Vinha na frente um menino magrinho cheio de sacolas,mulatinho,todo encurvado do peso das sacolas,andava uns 15 metros,como podia,e parava derrubado pelo peso,caía ao chão derrotado e ali ficava uns minutinhos.
Logo depois era alcançado por um garoto ainda menor e mais franzino,que vinha o seguindo valente se equilibrando no peso das sacolinhas.
Vi a operação se arrastar e se repetir várias vezes e sem vontade nenhuma ofereci carona,cheia de preguiça de domingo e ajudei os meninos carregarem as muitas sacolas até o carro,tinham feito a "xepa " pra mãe,que tava no hospital com o irmãozinho mais novo,que tinha sopro no coração.
Reforcei a comprinha deles com umas coisinhas de casa,larguei os meninos pra lá no fim do mundo na vila paineiras e voltei admirada com as crianças,tão educadinhas,tão esforçadas,tão miseraveis e ainda gastando os dentes no sorriso indo de carro pra casa,pura festa...Faz tempo,muito tempo,tem uns meses que isto aconteceu.Hoje de ônibus na volta da faculdade,lotado,de pé,a senhorinha que dava os peitos murchos(e a sensação era de que o menino mamava seus ossos),ouvia atenta e sorridente a conversa minha com a Ana Lúcia,amiga de infância,numa hora não aguentou e soltou o verbo:
-Puxa,eu tenho cinco filhos,e o mais velho apareceu com uma cachorrinha,trouxe aqui de marília escondida no ônibus até Garça,tinha encontrado na rua,mandei abandonar aonde buscava o leite,disse que era pequenina,alguém ia gostar,nós não tínhamos comida ou nada para cuidar dela,alguém iria simpatizar,obriguei a criança.Mas passou o fim de semana e quando o menino foi buscar o leite na segunda,a pobrezinha estava lá,exatamente aonde ele deixou,disseram que não saiu pra beber nem procurar comida,ficou praticamente imóvel esperando meu filho voltar:não aguentei,e mesmo sem poder,adotamos!
E contou mais história da cachorra vira lata que pra defender o sobrinho enfrentou um pitybull enquanto o rapaz maldoso,dono do cachorro ria muito,ninguém sabe como sobreviveu.-Não é que eu não gosto dos bichos,mas eu não tenho dinheiro pra cuidar,se defendeu.Disse que tinha levado o filho pra operar,mas como ele tava resfriado,não deu,precisou adiar.
Bem,eu tava com o carro na rodoviária,e como minha carta venceu e ainda não tive tempo de renovar,só tirei da garagem hoje porque em meio ao dilúvio que rola, chegaria encharcada na faculdade,tava lá nos esperando,arrisquei guiar até a casa dela uma carona, atravessei a cidade para que seu filho resfriado não piorasse.Fomos nós,eu e dona Luciana com seu filho de colo mais os anjos guardando nossas costas.aiaiai.
Proseando que estava estudando para ser professora,e da importância de estudar,ela me dizendo que seus filhos faziam todos os cursos gratuítos que aparecia,elogiando:
- Cada coisa que comem na escola:arroz,feijão,carne!!!!!Comem cinco vezes por dia!
E que conta para os filhos que passou muito perrengue,sua casa com a mãe era de plástico,na favela de garça(voce conheceu?)se era calor esquentava muito,e quando chovia como hoje o choque térmico arrebentava o teto,e eram ela e os mais novos embaixo da mesa,enquanto o irmão passava a noite segurando as pontas da casa para que ela não saísse voando,e pra comer era farinha com açúcar,não tinha água encanada,e o carro pipa abastecia duas vezes por semana,e não tinha banheiro,e na colheita eles passavam apertado,e era só um lápis uma borracha e um caderno,ninguém ganhava material escolar do governo,eu levava um saquinho de arroz branco pra comer quando dava,que também não tinha merenda,eu digo aos meus filhos:
Agora é tudo fácil!!!!
Chovia de não enxergar um palmo,e meu coração se doendo com aquela mulher tão batalhadora.A cesta básica chegava dia 2,depois passou pro dia dez.Não chegou até hoje,este mes...
Mas não tava reclamando,era apenas um assunto,logo teriam o que comer,que a colheita esse ano tava prejudicando o marido ganhar algum...só chove!Sempre entre sorrisos faltando dentes,boa vontade no olho mais que velho,carcomido de sol e pele em volta da pele que era jovem,mas gasta.
Chegamos!!!!
-Nossa!não acredito!Eu conheço sua casa e dois dos seus filhos,puxa,eles são encantadores,parabéns,Luciana!
-Óia!Então foi voce que "troci "eles pra casa no dia da feira?
-Sim.E eles me disseram que estavam" ajudando mãe que tava de internação com o bebe no hospital .
-Era mesmo para sermos amigas,disse emocionada,na despedida.
E fui embora enternecida com estas pessoas tão sofridas.
Puxa...nem acredito que em meio a tempestade,fui parar na casa dos meninos formiga!As palavras da mãe ecoando na minha alma:
-Agora é tudo fácil,digo pra eles.Estamos cheios de oportunidades,é só aproveitar:tá tudo fácil!!!!!!

...Fácil?!
Queria ter a sua garra,mamãe formiguinha.

Renata Koury

quarta-feira, 20 de junho de 2012

meu coração tomou tanto baque que agora não bate mais:
batuca.
Morrer pelo que vale a vida ser vivida,é eternizar-se...Morremos ao amar o outro e renascemos mais leves,todos os dias...

A vida sem ideologia própria,é um desperdício!

terça-feira, 19 de junho de 2012

-Enquanto abria a janela
entrava a lua cheia e alta
heis que a mulher escapava!
iaia...
além de mim,além do amor ...nada de seu.
a/penas perdida naquela imensidão de céu!

Renata Koury

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O amor incondicional é tão difícil e raro que fica difícil até identifica-lo,estamos sem referências...
(- Será que existe?!)
quando um consegue dar,
o outro não tem como receber,tamanho o susto...

Renata Koury

Encontro

Estava andando outro dia na rua,e encontrei a mãe de uma amiga minha.Fala mansa,calma,a mãe dela só poderia ser a mãe dela,nenhuma outra teria o mesmo amor ou a mesma paciência:pense em alguém que fala exatamente o que sente,faz exatamente o que quer:alguém selvagem e sem regras,sempre foi a minha musa,minha defensora,a amiga mais amada,em uma fase da vida que ser criança era tão frágil.
Eu era invocada,e ela nos defendia,que além de invocada era forte.Me lembro até hoje,estávamos passando numa esquina,dois "muleques" mexeram com a gente assoprando o ar para dentro,e aquele assovio era um som desrespeitoso que dizia:quero te foder,biscatinha.Nós com os peitinhos abotoando,mais meninas do que nunca nos revoltamos com o jeito chulo da abordagem a Cláudia declarou:
-Bate no pequeno que eu pego o bitelão!
Bem...enquanto eu apanhava do pequeno ela acabou com o grande e voltou pra terminar o serviço,senão eu tava tomando "uns tapa" até hoje do moleque.
Podia contar com ela para tudo.Todos os dias,todos!Iamos até a padaria tomar sorvete .ai que gostoso.Nós juntas brincávamos de qualquer coisa,pois éramos diferentes.Muito.a gente se amava e se respeitava como gente grande.Nunca brigamos:nunca!
Ninguém mais intensa ou verdadeira,era até falada na escola,que gostava de sexo,de comida,dos prazeres e de estudar mais ou menos,sempre foi muito mulher.E como os homens são machistas assim como nossa sociedade é hipócrita,sofreu.
Foi ser feliz embora bem longe,aonde o sol brilha como ela,nasceu também no mesmo dia que eu,somos complementares,irmãs do mundo,meu avesso,minhas entranhas.
Cheia de bichos,cheia de filhos e com seu amor,tá lá aonde o sol também é intenso.
Andar de bicicleta.Parece uma coisa simples,mas é uma delícia!Andei hoje.
E tava aqui na internet quando resolvi puxar conversa.Ai que saudades!Andar de bicicleta juntas,dar risada,contar a vida:ai que saudades,puxa!
-E os gatos vão bem?!E os filhotes?!Hoje em dia tem família grande,é bonita,magrinha,e foi arrumando os peitinhos que apaixonou o marido.(a plástica mais romântica do mundo!).
-Muxibinha não!(me disse em conversa comprida,faz tempão).E a apoio completamente!Esta minha amiga sempre buscou a realização e felicidade sem medo.Sem medo!!!!Tá lá!Puxa,eu fico tão feliz por ela!!!E vai chegar em julho,julho está pertinho.
  E me lembrei e dei risada até dobrar aqui sozinha de quando tomei aqueles tabefes .
-Aposentei!(respondeu)Eu disse que não acreditava.Ela é um furacão!!!!Hehe,foi só dar corda,ela disse:
-Bem...
Outro dia um cara bateu no meu carro,desceu e me chamou de vadia.Há.Perdi a cabeça.tava cheio de gente,devia ser na tpm...
O cara apanhou que nem criança!Tava cheio de gente em volta,um amigo que passou conseguiu me segurar,senão acho que eu matava!Fiquei cega...
Meu professor de luta ficou puto comigo por ter brigado na rua.
Eu disse pro guarda:Pô,voce viu a briga e não fez nada...Ele respondeu que não deu tempo...
-A senhora resolveu!justificou-se.
Estrebuchamos de rir.O marido ficou sabendo,é Dotô,bafo!Agora a comunidade vai pianinho com ela e reza a lenda que ele apanha em casa.Aiiiiiiiiii,esta amiga é muito engraçada...
-Esse nunca mais xinga mulher!Folgado!Mas eu morro de vergonha,morro!Mentiu enquanto morremos de rir mais uma vez,me despedi:
-Musa!

...Não há como os amigos da infância,lembrar e existir tão bonito.
Renata Koury

domingo, 3 de junho de 2012

-Enquanto abria a janela
entrava a lua cheia e alta
heis que a mulher escapava!
iaia...
além de mim,além do amor ...nada de seu.
a/penas perdida naquela imensidão de céu!

Renata Koury

imensidão

-Enquanto abria a janela
entrava a lua cheia e alta
heis que a mulher escapava!
iaia...
além de mim,além do amor ...nada de seu.
a/penas perdida naquela imensidão de céu!

Renata Koury
O lugar dos meus sonhos não é secreto...mas é inalcançável.

A prisão se mudou para o coração do homem com a polícia e trouxe junto um Demonio que compra tudo o que é bonito de consciência e espontaniedade:o dinheiro!(perdeu-se a noção de prestígio e o conceito de hombridade.)
Todos somos suspeitos marginais e prisioneiros de grades inimagináveis...
o pior algoz é o carcereiro que mora dentro e dita as regras que aprendeu da sociedade,suas mentiras,e julga o próprio sujeito.
A corrupção nos é infringida como lei numa incessante manipulação dos fatos e do discurso,quem paga as contas e leva a culpa são os miseráveis
válvula de escape de barbáries e luxúria dos detentores do poder,que ditam podres as regras a seguir:obedecer!
...E é assim que as algemas que nos impedem de gritar não aparecem mas oprimem tudo e a todos ,pobres diabos controlados por comprimidos de felicidade :são caros !O homem resolveu trocar a alma pelo conforto
...e de promoção em promoção
perde-se a vida
e a humanidade.
Renata Koury